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sábado, 5 de maio de 2012

Gol L, 1980, no caminho




O projeto da réplica do Fiat 1899 continua firme como intenção, mas sua construção sofreu uma pausa por tempo indeterminado. Tenho um novo divertimento agora.
Há quase quatro anos fiquei sem carro antigo quando vendi o Fusca 1300 L, ano 1976. Fiquei inquieto desde a venda, em 2008. A inquietação passou a ser maior quando passei a frequentar os encontros do Clube do Fusca  do Rio Grande do Norte, todas as quintas-feiras a noite.

Bem, em março encontrei pela Internet um Gol L, motor 1300 a gasolina, refrigerado a ar, ano 1980 a venda em São Carlos-SP. Fechei negócio, pois é um modelo que sempre desejei. Um tanto difícil de encontrar com as características originais. Identifico dois motivos para isso:

  • A versão só foi ofertada por pouco mais de um ano, sendo vendidas poucas unidades, por volta de sessenta mil - número estimado e não muito seguro.

  • Muitos desses carros com o tempo, na mão de seus proprietários, tiveram seus motores substituídos pelo motor 1600, também refrigerado a ar, que passou a equipar os modelos seguintes. Outros sofreram mudanças mais radicais tendo seu trem de força  substituído pelo do Passat.


A principal motivação em ambos os casos, ao que tudo indica, foi o baixo desempenho oferecido pelo carro. Sobrava estabilidade, faltava motor. Não eram poucos os proprietários desapontados com essa falta, principalmente os que o utilizavam  na estrada regularmente. No uso urbano, a boa potência em baixa rotação, característica dos motores VW refrigerados a ar, em especial os de carburador único, se mantinha e deixava o carro um pouquinho divertido. Já na estrada o baixo valor de potência máxima, 42 cavalos ABNT, complicava ultrapassagens e causava sonolência nas subidas longas. Não era páreo nem mesmo para o Fiat 147 com seu motor de 1.050 cc e ruído de enceradeira.
O Golzinho só conseguia andar na frente dos Fusquinhas, e por pouco. Aliás, a impressão de quem ia a bordo não era essa, a boa visibilidade e equilíbrio de rodagem, bem superiores a do fusca, fazia parecer que o Gol era ainda mais lento que seu primo mais velho. Mas, na verdade sua melhor aerodinâmica e um motor mais afinado, que oferecia quatro cavalos a mais, garantiam uma máxima por volta dos 130 km/h, uns dez a mais que o fusca.


A versão do motor 1300 específica para o Gol L diferia da do fusca, recebeu diversos melhoramentos segundo a Volkswagen. Cabeçotes com válvulas em V (a versão do Fusca sempre teve válvulas paralelas), comando de válvulas e eixo balancim redesenhados, novo formato das câmaras de combustão e ignição eletrônica eram os maiores destaques nos comerciais impressos.
Segundo as revistas especializadas da época, o ganho mais significativo de potência em relação ao motor original foi obtido pela substituição da turbina de refrigeração por uma axial de menor fluxo. O posicionamento do motor, agora dianteiro, favorecia naturalmente a refrigeração, tanto que os projetistas eliminaram o radiador de óleo. Sim, o motor do Gol L não tinha radiador de óleo. Uma volta às origens.

Explico, é que, segundo li no livro “Fusca”, da série “Clássicos do Brasil”, escrito por Paulo César Sandler, os motores dos primeiros protótipos do Fusca não dispunham de radiador de óleo. Esses engenhos não funcionaram a contento, apresentando constantes quebras por superaquecimento durante os testes de campo.
A equipe de Porsche trabalhava sob pressão – basta lembrar que o cliente do projeto era  Adolf Hitler - e certamente a solução do problema se mostrava difícil. A saída foi buscar ajuda para resolver o embrolho. Um dos engenheiros da equipe de Porsche, Josef Kales, atravessou o atlântico e foi buscar a solução junto de quem mais entendia de motores a ar na época, a Air-Cooled Motors Corporation, sucessora da Franklin, esta uma tradicional fabricante de motores refrigerados a ar, sediada em New York, Estados Unidos.

Após dez dias junto aos ianques, trouxe a receita triunfal. As mudanças introduzidas no motor foram alterações dos dutos do sistema de lubrificação e a inclusão do providencial radiador de óleo vertical. Alfim, o problema de superaquecimento foi definitivamente sanado, o que permitiu ao “Carro do Povo” continuar sua caminhada rumo ao título de carro mais popular de todas as épocas.
Mais de quarenta anos depois, basicamente o mesmo motor vai para frente de outro carro e o radiadorzinho, “salvação da lavoura” na concepção e nascimento do “Carro do Povo”, foi jogado fora. Essencial para o Fusca, dispensável no Gol.

Voltando ao Gol L, pelas reclamações ouvidas dos primeiros proprietários em relação ao fraco desempenho, é certo de que a vantagem de quatro cavalos para o motor do novo carro da Volkswagen em relação ao Fusca se mostrava ínfimo quando consideradas a superioridade em estabilidade e dirigibilidade, também em favor do Gol.
Os responsáveis pelo projeto do carro tiveram que agir rápido nesse ponto para evitar o fracasso comercial que já se mostrava iminente.

Só precisou de alguns meses para a Volkswagen passar a ofertar o modelo 1600. O motor 1300 só se manteve absoluta na versão a álcool, e também por breve lapso de tempo. A versão L que trazia o motor passou a ter concorrência da LS com motor de maior deslocamento e dupla carburação, não resistiu muito, em 1982 o motor 1600 passou a motorizar todas as versões de Gol. Esta segunda motorização teve vida mais longa e conviveu com uma nova versão com motor refrigerado a água até ser substituída completamente, deixando definitivamente de equipar a família BX da marca alemã, no final de 1986.

Apesar de mais cara, as versões com motor maior, ainda refrigerado a ar, agradaram e venderam bem mais. A diferença de preço cobria outros itens além do motor mais forte, alguns também passaram a integrar a primeira versão. O freio, por exemplo, no primeiro modelo não era servo-assistido, o que gerava reclamações, a partir de março de 1981, quando a versão 1600 foi lançada, passou a ser do tipo hidro-vácuo nos modelos mais potentes e também na versão L de motor 1300, na versão básica com este motor o item era opcional. Já a barra estabilizadora que só existia como item opcional desde o lançamento do carro, em 15 de maio de 1980, passou a ser de série em todos os modelos.

Uma reclamação não resolvida com a nova oferta de motor foram as falhas crônicas de ignição em dias de chuva, problema surgido devido ao posicionamento frontal de um motor pensado originalmente para trabalhar atrás do carro. O fabricante sabia disso desde o começo, mas não quis investir mais que os frágeis e deselegantes sacos plásticos que vestiam o distribuidor. Mas, vou deixar o assunto para um novo post.

Agora vou falar mais um pouco do meu Golzinho L. Ainda estou providenciando algumas revisões e reparos, tem muito o que ser feito, pequenas coisas, mas o carro está relativamente bom e posso adiantar que estou muito satisfeito com a compra. Acho uma delícia dirigi-lo, claro que dentro do espírito nostálgico. Em breve farei a primeira viagem. Será para visitar o 13º Encontro de Antigomobilistas de Mossoró. Contarei aqui como foi a viagem e claro postarei algumas fotos. Para fechar vou deixar um vídeo que localizei no YouTube do primeiro Gol L, placa preta. Abraços



Vídeo "Garagem do Bellote" primeiro Gol L placa preta


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